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“Para termos uma ciência mais humanizada, mais democrática, para todos e com todos”

5ª edição do Ciclo “Diálogos em Ciência Cidadã” apresentou perspectivas sobre a ciência cidadã dentro da educação, tanto no Brasil quanto em Portugal

Por Joana Giacomassa 

 

A quinta edição do ciclo de webinários do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Ciência Cidadã (INCC) foi ao ar no último dia 21 de maio. O evento foi transmitido ao vivo pelo YouTube e debateu, entre outras coisas, como integrar as práticas de ciência cidadã em contextos formativos, além das aprendizagens e desafios encontrados pelas convidadas. As experiências contaram com a perspectiva no Brasil e em Portugal. 

A edição completa está disponível no canal do YouTube do INCC:

A professora Dra Carla Morais de Ensino das Ciências da Universidade do Porto, membro integrado do Centro de Investigação em Química da Universidade do Porto, coordenadora do grupo de investigação “RG5: Educação, Comunicação de Ciência e Sociedade” e diretora do Programa Doutoral em Educação e Divulgação das Ciências da FCUP foi a primeira a falar no webinário. 

Ela entende que, pelo menos da perspectiva europeia, a sociedade está cada vez mais receptiva, disponível e valoriza a investigação sobre a forma de ciência cidadã. Segundo dados trazidos do Eurobarómetro, publicado em fevereiro de 2025, 63% dos entrevistados manifestaram-se a favor da participação dos cidadãos na investigação científica e desenvolvimento tecnológico. 

Carla apresentou diversos conceitos teóricos de origem e definição da ciência cidadã, seguidos das contribuições e desafios da integração da ciência cidadã na Educação em ciências e aspectos que impulsionam a participação dos professores e da educação formal nessa integração, além de dois projetos de ciência cidadã: PVC (Perceiving the value of chemistry) e CoASTRO. 

O projeto “Percebendo o Valor da Química” (PVC) nasceu da necessidade percebida de mitigar a carência de projetos de ciência cidadã em química. É uma iniciativa de ciência cidadã que visa aprimorar a compreensão e a apreciação da química pelos alunos, conectando-a a questões do mundo real, como lixo marinho e monitoramento da qualidade da água. O projeto utiliza uma abordagem de aprendizagem prática e contextualizada, envolvendo os alunos em atividades como coleta de amostras de águas costeiras, análise de amostras de água e identificação de microplásticos. O projeto enfatiza a importância da química na abordagem de problemas ambientais e na promoção de uma aprendizagem significativa.

Já o CoAstro tinha como objetivo trazer os professores para a investigação científica em astronomia, através de uma dinâmica centrada na formação de professores. O projeto envolveu professores e astrônomos e resultou num artigo científico e em práticas de divulgação nas escolas em resultado da aprendizagem que tiveram durante o projeto, com envolvimento dos professores, alunos e até dos pais e de toda a comunidade. 

Carla ressaltou recomendações para que a ciência cidadã e a educação tirem cada vez mais proveito uma da outra, como desenvolver materiais adequados para as escolas e professores, garantir que não haja supremacia dos objetivos de investigação em detrimento dos objetivos educacionais, criar dinâmicas de avaliação mais transversais, que abarque os efeitos reais da participação e aprendizagem, comunicar mais e melhor e, por fim, estabelecer cada vez mais parcerias que permitam a integração entre a ciência cidadã e as escolas. 

“O objetivo da ciência cidadã na educação é fazer com que tenhamos uma ciência mais humanizada, mais democrática, para todos e com todos”, finalizou a professora. 

Dra Luciana Garzoni, pesquisadora em saúde pública no IOC/Fiocruz, vice-diretora de pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação na instituição, docente permanente do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular e do Programa de Pós-graduação de Ensino em Biociências e Saúde e coordenadora do Programa de Pesquisa Translacional em Promoção de Saúde da Fiocruz, foi a segunda a compartilhar experiências. 

Luciana apresentou duas iniciativas da IOC/Fiocruz em diálogo com a ciência cidadã realizadas durante a pandemia de covid-19. Um deles é o projeto INOVA Baixada, uma vigilância epidemiológica de base comunitária na Baixada Fluminense/RJ. 

A pesquisadora destacou que, a partir da co-criação, a contribuição da comunidade na resolução de problemas que surgiram ao longo do caminho foi essencial para aplicação prática dos resultados e o impacto direto das ações na qualidade de vida dos moradores.

Além da importância do projeto no que diz respeito a atender a população de uma área vulnerabilizada, exposta a violência urbana e do projeto, a pesquisadora ressalta que a iniciativa foi inteiramente co-criada, em todas as etapas, junto à comunidade da baixada fluminense. Ficou evidente também a dimensão do engajamento no projeto para além da mera coleta de dados, reconhecendo que o projeto permitiu o envolvimento profundo e significativo dos cidadãos da Baixada.  

Dra Joselaine Setik, pós-doutoranda na Linha Formação e Educação do INCC e professora de Ensino de Física na UFABC, encerrou as falas do webinário com uma apresentação de resultados de uma revisão de literatura sobre a formação em ciência cidadã em andamento. 

O estudo está focado em publicações no formato de artigo (Scopus e Web of Science) entre os anos de 2014 e 2024, para identificar e analisar aspectos-chave de cursos e treinamentos em Ciência Cidadã. 

Foram encontradas 219 publicações dentro dos critérios estabelecidos, resultando em 241 cursos e treinamentos e posteriormente, classificados e analisados. 

O ciclo de webinários “Diálogos em Ciência Cidadã” tem o apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e conta com a parceria da Rede Brasileira de Ciência Cidadã (RBCC). 

Se inscreva para receber todas as novidades do ciclo de webinários e acompanhe as redes sociais do INCC para mais informações.

 

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