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Comunicação como aliada da ciência cidadã: quais os desafios e de que forma avançar?

Na sétima edição do “Ciclo de Diálogos em Ciência Cidadã”, especialistas e divulgadores destacam caminhos, como ocupar espaços, praticar dialogicidade e ser acessível

Por Alice Lira Lima, com apoio de Joana Giacomassa, Karen Sailer e Luan Alves

Como engajar comunidades diversas, traduzir pesquisas para uma linguagem acessível e fazer com que projetos de ciência cidadã sejam compreendidos e apoiados? Essa resposta inclui o papel da comunicação, como mostrou a 7ª edição do ciclo “Diálogos em Ciência Cidadã”, realizado pelo Instituto Nacional de Ciência Cidadã (INCC) e transmitido pelo canal do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) na última quinta-feira (21).

O webinário reuniu Alba Lívia Talon, jornalista científica do Instituto Nacional da Mata Atlântica (Inma); José Carlos Fernandes (Zeca), professor de Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR); e Larissa Paiva, do Time Larittrix e embaixadora do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). 

O objetivo foi aprofundar a reflexão sobre os papéis, desafios e possibilidades da comunicação nos projetos de ciência cidadã no Brasil. Como ressaltou Luana Rocha, pesquisadora do Ibict que mediou o encontro, trata-se de uma questão transversal e estratégica dos projetos. 

Ela destacou que a comunicação deve ser presente do planejamento à divulgação dos resultados e apresentou exemplos de práticas e reflexões já discutidas dentro do INCC. “Noventa e cinco por cento da ciência cidadã é comunicação (Scivil, 2021). Essa frase é de um guia internacional e nos provoca a refletir sobre que tipo de comunicação queremos”, questionou. 

A pesquisadora também compartilhou resultados de um exercício realizado durante o Encontro Brasileiro de Ciência Cidadã, em que participantes associaram a palavra comunicação a termos como confiança, troca, acessibilidade, coconstrução e escuta. O desafio tem sido ir além da divulgação pontual e pensar em um diálogo constante com diferentes públicos. Luana deixou a reflexão: “será que é possível engajar essas pessoas e construir conhecimento colaborativo sem uma boa comunicação?”.

Ocupar espaços com divulgação científica

A jornalista Alba Lívia Talon expôs dados da pesquisa nacional de percepção pública da ciência do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE). Os números mostram que, embora a maioria da população brasileira tenha interesse em ciência e meio ambiente, ainda há grandes lacunas de acesso a museus, feiras e eventos científicos. Em sua apresentação, ela defendeu que os projetos de ciência cidadã são uma ferramenta essencial de alfabetização científica e, por isso, precisam da comunicação como aliada. A comunicação tem que nascer com o projeto, não pode ser vista como uma atividade secundária. “Os projetos já devem incluir a comunicação para a gente ocupar os espaços públicos, virtuais ou presenciais, com esse conteúdo de qualidade, reagir às informações falsas que circulam publicando então informações corretas, desmistificando alguns assuntos e desmentindo algumas outras inverdades”, reforçou.

A ideia é que a comunicação seja usada tanto para popularizar a ciência e inspirar novos cientistas, quanto para fortalecer a credibilidade institucional, combater a desinformação e influenciar políticas públicas. Por isso, é importante sempre considerar canais acessíveis, como imprensa e redes sociais.

Apesar da desconfiança crescente em instituições, ainda segundo a pesquisa do CGEE, cientistas estão entre os que têm maior credibilidade. Isso reforça, segundo Alba, a responsabilidade da ciência cidadã em ocupar novos espaços e que pesquisadores assumam também a tarefa de comunicar e aproximar resultados da sociedade.

Extensão universitária e dialogicidade

Exemplos do saber científico como parte do dia a dia da sociedade são a extensão universitária e a comunicação popular. O professor José Carlos Fernandes, “Zeca”, abordou essa experiência, que ainda busca ser reconhecida como produtora de conhecimento dentro da hierarquia acadêmica. “Com a curricularização da extensão, 10% da carga horária de qualquer curso precisa estar fora dos muros da universidade. Isso é um passaporte para uma revolução”, afirmou.

Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação Popular da Universidade Federal do Paraná (NCEP), Zeca relatou experiências de 22 anos de atuação em comunidades diversas (escolas periféricas, ocupações urbanas, população carcerária e grupos em vulnerabilidade social) e como a horizontalidade e a dialogicidade freiriana, de “construir com, e não para”, são essenciais na comunicação cidadã.

O grande desafio da dialogicidade é praticá-la de verdade, não apenas como um item em relatórios. É preciso estar preparado para que a comunidade indique caminhos diferentes dos que planejamos”, explica. Ele também colocou o papel da educomunicação e da comunicação popular como referenciais para os projetos de ciência cidadã.

Jovem divulgadora científica

Como observar o céu pode influenciar a vida de alguém? Para Larissa Paiva, a “Laritrix”, de infinitas maneiras. Cearense de Pires Ferreira, ela contou como essa história começou ainda criança. “Eu achava injusto que tudo tivesse nome, pessoas, animais, plantas, e as estrelas não. Perguntei para minha avó e descobri as Três Marias. Foi quando percebi que podia criar teorias e buscar respostas”. 

Larissa passou a frequentar lan houses para aprender astronomia e compartilhar com a comunidade. Aos 20 anos, agora ela é, além de estudante de pedagogia, reconhecida como divulgadora científica, caçadora de asteroides e palestrante que impacta milhares de estudantes. “Meu propósito é levar a ciência para as pessoas e as pessoas para a ciência”, compartilhou, e acrescentou como usa linguagem simples e a ludicidade para isso. “Eu uso músicas, cultura nordestina, brincadeiras. A empatia é essencial para democratizar o acesso”.

Os convidados responderam a perguntas dos participantes e finalizaram com a mensagem de que os obstáculos não são apenas técnicos, mas também culturais. Como disse Alba, a tarefa é coletiva. 

Assista ao webinário

Ciclo “Diálogos em Ciência Cidadã”

O ciclo de webinários “Diálogos em Ciência Cidadã” é promovido pelo INCC em parceria com a Rede Brasileira de Ciência Cidadã (RBCC) e conta com o apoio da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Para receber novidades do ciclo e acompanhar os próximos eventos, siga as redes sociais do INCC.

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